A revista Scientific American Brasil 141 publicou artigo de M. Covert[1] intitulado Simulando uma Célula Viva que anuncia a gênese do primeiro modelo computadorizado completo de um organismo vivo. Covert é o pai da criatura virtual.

Partindo da idéia de que "todo experimento que pode ser conduzido no laboratório pode ser realizado no computador"[2], Covert tentou modelizar um dos organismos unicelulares mais simples, o mycoplasma vaginalis[3].

Reuniu uma equipe de físicos, biólogos, modeladores e engenheiros de software, combinou uma miscelânea de procedimentos matemáticos[4] e usou programas de simulação para esboçar uma grande refinaria em que as diversas reações químicas ocorrem em recipientes separados conectados por dutos.

Cinco anos depois, concebeu um modelo composto de 28 módulos distintos, cada qual com seu algoritmo e conectados numa seqüência temporal. E deu a luz a uma criatura virtual que funcionava perfeitamente de acordo com a criatura viva.

O artigo de Covert mostra como o saber no real do organismo vivo – o savoir-faire do mycoplasma – pode ser escrito em fórmulas, transcrito em linguagem computacional e usado na criação de um ser virtual que vai interferir no real.

Saudamos a engenhosidade do criador e a graça da criatura. Como toda descoberta científica, o nascimento do ser virtual inaugura um fértil campo de imprevisibilidades.

Ariel Bogochvol
EBP, São Paulo, São Paulo