Un réel pour le XXI sciècle
ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE PSICANÁLISE
IX Congresso da AMP • 14-18 abril 2014 • Paris • Palais des Congrès • www.wapol.org

Priva (da) cidade
Eliana Machado Figueiredo

Cidade de São Paulo, um acontecimento, um encontro com o real a cada esquina… Assistimos diariamente a apropriação dos espaços públicos na cidade, por aqueles que gritam, não mais aos nossos ouvidos, mas aos nossos olhos! Uma praça e tudo acontece ali, à luz do dia ou da noite...

Avenida Paulista, coração e símbolo da cidade de São Paulo, e um pedido inusitado! Ouvir um morador de rua, no caso, de praça, pois naquele momento algo não ia bem com ele e ele estava pedindo ajuda.

Fui! Ao chegar à praça, eu me apresento e ele, com um livro nas mãos, me diz: "por favor, venha ao meu escritório". Eu o sigo até um ponto da praça. Duas caixas de cimento no chão são as nossas poltronas. Há livros de Marx, Maquiavel, Sartre, Hegel, dentre outros. Ele me conta sua vida e mostra sua casa: "Estou aqui há dois anos. Aqui tenho tudo de que preciso: roupas, sapato, cobertores, comida, água, sexo e livros!".

Decorrido algum tempo ele me conta o seu problema: "O problema, doutora, é que a praça é pública, mas eu não sou público! As pessoas que vem aqui diariamente acham que eu tenho que cumprimentá-las, dizer bom dia, boa tarde e boa noite; que tenho que sorrir para todos. A praça é pública, eu não!" Em seguida, diz do seu outro incômodo: "há câmeras por toda praça. Antes não era assim. Onde está minha privacidade?"

Eliana Machado Figueiredo
Associada ao CLIN-a, Mogi das Cruzes, São Paulo