Un réel pour le XXI sciècle
ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE PSICANÁLISE
IX Congresso da AMP • 14-18 abril 2014 • Paris • Palais des Congrès • www.wapol.org

Sabe como?...
Heloisa Caldas

Nos anos sessenta, uma jovem chega do interior na metrópole do Rio de Janeiro. Viu um casal se beijar na claridade do meio dia, no centro da cidade. Maravilhada, pensou: Então isso podia acontecer? Não precisava ser um beijo furtivo, no escurinho do cinema, inspirado pelos dos atores? A liberação sexual fazia sentido. O sexo era "natural" e os jovens recusavam a tradição insensata.

Em 2014, na tela da televisão, estreia no Brasil, em público, o beijo homossexual. Trata-se da mesma coisa? Penso que não. Em parte porque se divulga em tempo real pelo país todo, esfumaçando a fronteira entre tradição e inovação. Como todos são levados a ver, ao mesmo tempo, perde o caráter de encontro contingente, ganhando o estatuto de necessidade obediente à lógica do espetáculo.

Do ponto de vista ético, jurídico, legitima-se uma nova ordem simbólica. Isso certamente é um ganho. Mas dessa vez não tem o caráter de um real natural que temos apenas que desencapar e pronto: é isso aí! O sexo parece passar a ser performance. Nada natural. E não vai parar por aí. Novos pedaços de real vão ressurgir alhures, mais e mais, diante daquilo que os novos discursos ditam, de forma mais ou menos dura.

Um jovem rapaz se lamenta: eu não gosto muito de beijar a três. Mas ela só quer assim, com a amiga dela e eu. Então fazemos isso. Não sei por que sempre obedeço a ela. Às vezes, no final, não tenho tesão por nenhuma das duas. Eu queria fazer sexo sem droga, a dois, que fosse só por amor, sabe como?...

Heloisa Caldas
EBP, Rio de Janeiro

First kiss, film de Tatiana Pilieva : We asked twenty strangers to kiss for the first time...