Un réel pour le XXI sciècle
ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE PSICANÁLISE
IX Congresso da AMP • 14-18 abril 2014 • Paris • Palais des Congrès • www.wapol.org

AFINIDADES
Luiz Felipe Pondé
filósofo
Declaração de guerra ao real

Entrevista realizada por Jorge Forbes

Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé é filósofo, escritor e ensaísta brasileiro. Começou sua carreira em medicina, graduando-se na Universidade Federal da Bahia. Depois cursou filosofia na Universidade de São Paulo e fez doutorado pela mesma instituição em parceria com a Universidade de Paris. Realizou pós-doutorado na Universidade de Tel Aviv. Escreve semanalmente no jornal "Folha de São Paulo" e é autor de diversas obras, entre elas, "Guia Politicamente incorreto da filosofia" (2012) e "A filosofia da adúltera - Ensaios Selvagens" (2013).

Jorge Forbes: O discurso da ciência e do capitalismo vigoram (apud Lacan). Quais as consequências disso para a civilização? O que podemos esperar?

Luiz Felipe Pondé: Suspeito que tanto a ciência quanto o capitalismo vigoram como métodos de tamponamento da falta estruturante do ser humano. Neste sentido, se tornam ferramentas anti-analíticas, e portanto, de um ponto de vista lacaniano, contrárias a qualquer possibilidade do sujeito se tornar responsável pelo próprio desejo. A primeira realizando a falsa plenitude via a venda da pseudoeternidade fisiológica, e o segundo, fazendo sujeito fantasiar que o mundo sim pode ser um lugar seguro para resolver sua insuficiência estrutural.
Portanto, ambos são uma declaração de guerra ao real, investindo na ideia de que, pela primeira vez, e de modo muito mais radical do que os grandes sistemas metafísicos (projetos claros de negação do real), a civilização poderá se definir como uma opção ao real.

J. F.: O Brasil apresenta alguma especificidade no tratamento do Real?

Luiz Felipe Pondé: Além do dito acima, no caso específico do Brasil, afora a conhecida cordialidade brasileira como modo de retificação da falta, apostaria no "totalitarismo do bem" típico da crescente cultura política brasileira como "novidade" no projeto de negação do real típico das civilizações. Neste caso, o Brasil segue de perto a tendência nascida com a revolução francesa e a filosofia de Jean-Jacques Rousseau de colocar a redenção política como opção a falida redenção metafísica.
A política se fez metafísica, e com isso, se propõe como "nova clínica" do real (e falsa como toda clínica que aposta num erotismo da totalidade) e assola mesmo a formação dos analistas hoje em dia, inclusive no campo lacaniano.